14/09/2010

PÉS DESCALÇOS FORA DE HORA

Tive uma inesquecível experiência visitando, em Viena, a Hundertwasser Hauss, uma mansão num antigo bairro transformada em centro cultural. O piso em altos e baixos é revestido de pedrinhas para os visitantes se apossarem dos espaços através da sensação tátil dos pés. O dito popular de ter os pés no chão para perceber a realidade faz parte da filosofia de vida do pintor Hundertwasser ao dificultar aquele percurso.
Os pés são a base para um andar elegante, e ninguém está sorridente se eles estão doendo.
Eles podem falar de amor, quando o homem cutuca o pé de uma mulher debaixo de uma mesa de jantar, uma das formas mais antigas de passar uma cantada.
Mas os pés também machucam o próximo, quando duas pessoas esbarram. Pedir desculpas é a única atitude ditada pela boa educação.
Os pés clamam por liberdade.
Que alívio chegar em casa e tirar os sapatos. No cinema e no teatro, já é um perigo, o sapato pode rolar debaixo das poltronas. Num avião, há o recurso de aguardar a saída dos passageiros e pedir ajuda ao comissário de bordo.
Andar de pé no chão é a descontração absoluta, própria às horas de lazer, mas não no dia a dia  da vida urbana. Muita gente, ao assistir shows, toma para si o exemplo de Maria Bethânia, que se apresenta descalça numa demonstração adequada de intimidade com seu público.
Mas presenciar num escritório pessoas com os sapatos ao lado dos pés, debaixo da bancada do computador, é constrangedor. Eles esquecem onde estão, dos colegas que desviam os olhos daqueles dedos, muitas vezes, sendo exercitados.
Como é raro um pé bonito, com unhas tratadas, quando aquele exercício é feito em plena sala com visitas, a impressão causada é pior. Uma questão de higiene e elegãncia.
(Célia Ribeiro - Zero Hora - caderno Donna 12/09/2010)

Um comentário:

Danieli disse...

No meu trabalho não tem perigo, a mesa é tampada na frente e ninguém vê os meus pezinhos hehehehehehe
Mas uma coisa é verdade: um pé bem feitinho é tudo!
Beijos!